terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Por Augusto Cruz

A comunicação de uma forma geral, é peça de fundamental importância para quem leciona, seja qual for a matéria e é o meio que temos para trabalhar as informações da disciplina que lecionamos, o conteúdo. Mas a comunicação não-verbal, influencia diretamente na formação
Lamentavelmente, algumas pessoas que “estão” professores, não compreendem bem essa importância, daí nos deparamos com problemas no ensino, que na verdade, são problemas de comunicação, gerando problemas sérios na formação dos educandos.
Aquilo que é dito é muito importante, mas, a forma como é dito pode modificar totalmente o significado da mensagem.
Clarice Michelan, em seu texto “Como entender a linguagem corporal”, nos diz o seguinte: “Estudos lingüísticos concluíram que as palavras correspondem a apenas 7% da comunicação. Já a voz, o tom da voz, e o jeito de dizer as coisas equivalem a 43%. Agora, surpreendentemente, a linguagem corporal transmite cerca de 50%, ou seja, metade da mensagem recebida pela outra pessoa”.
Comecemos com um exemplo onde só a interpretação da mensagem já causa confusão. Uma ex-aluna minha da universidade, professora em uma escola de um município do interior do Ceará, me contou o seguinte: falava-se sobre neve durante a aula, daí uma criança aluna dela disse “professora eu já vi neve. Eu vejo neve todo dia.” A professora, surpresa com a afirmação da criança, perguntou curiosa, onde ela via neve, a menina respondeu: “no congelador da geladeira lá de casa.”. Tem lógica! Ela deve ter escutado que neve era gelo, se a geladeira dela tem gelo, e neve é gelo, então ela vê neve todos os dias. Precisamos ter cuidado com a forma como passamos certas idéias para nossos alunos.
Um exemplo mostrando a força dos gestos, quem nos conta é Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia: “Às vezes, mas se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente insignificante valer como força formadora ou como contribuição à do educando por si mesmo. O professor trouxera de casa os nossos trabalhos escolares e, chamando-nos um a um, devolvia-os com o seu ajuizamento. Em certo momento me chama e, olhando ou re-olhando o meu texto, sem dizer uma palavra, balançando a cabeça numa demonstrarão de respeito e de consideração. O gesto do professor valeu mais que a própria nota dez que atribuiu à minha redação. O gesto do professor me trazia confiança ainda, obviamente desconfiada de que era possível trabalhar e produzir” (FREIRE, 1996).
Levando em conta essa força que a comunicação não-verbal tem, podemos pensar que, se fosse ao contrário, fisionomia e gestos negativos, também marcaria, só que negativamente, podendo inclusive gerar um trauma.
Outro dia ouvi um relato de uma aluna da educação infantil que tentava mostrar seu desenho para a professora, e que a “tia” insistia em dizer que estava muito bonito, sem sequer olhar direito para o desenho, só que a menininha percebeu e disse “Tia a senhora acha bonito e nem viu que no desenho eu estou matando a minha mãe.” Essa doeu!
Ela percebeu que, embora a professora respondesse, não estava lhe dando a atenção necessária. Não estava inteiramente no processo de comunicação.
Um outro fator é quando o pai ou a mãe, diz para uma criança falar baixo, pois está fazendo muito barulho. Só que diz isso, aos berros, gesticulando com o dedo em riste e a fisionomia fechada, em tom de ameaça. A criança ouve a mensagem, mas o que fica gravada é toda a comunicação gestual e o tom de voz do seu interlocutor. Seria, claro, mais coerente, se isso fosse dito em tom de voz suave, o adulto se baixando para ficar da “altura” da criança e, embora dito com firmeza, mas com uma expressão fisionômica aberta, tranqüila. Isso se chama coerência.
Não há mais lugar para o “faça o que eu digo e não faça o que eu faço”.
Um sorriso sarcástico, uma piada de mau gosto, colocar o aluno em situação constrangedora, um olhar de desaprovação diante de um trabalho que, apesar de não estar totalmente correto, mas precisou de esforço para ser feito. Tudo isso marca e marca profundamente.
Muito mais teríamos a exemplificar, mas prefiro deixar um espaço para que façamos nós mesmos, eu e você, uma reflexão sobre como nossa comunicação, principalmente a não verbal, está atingindo, influenciando, marcando a formação de nossos alunos.

Um grande abraço e sucesso para você.

Augusto Cruz
(85) 9619.1215

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O MESTRE E O DISPARO FATAL

Recebi o texto abaixo de um amigo e como o achei fantástico, não posso deixar de compartilhar com você.



Um grande abraço



Augusto Cruz



Ser professor do ponto de vista da população é apenas uma fase na carreira de um profissional até que ele estabilize economicamente em outra profissão relacionada à sua graduação. O pior, é que isso é meia verdade. Vários “dadores” de aula utilizam indevidamente o título de professor durante um determinado tempo à espera de sua realização em outra profissão.
Com isso, o verdadeiro professor sofre, lendo e ouvindo, o que não deseja o que magoa e até constrange.
Qual o professor não ouviu? “Você ainda está dando aula?”. “Puxa vida, fui seu aluno há muito tempo atrás, como você agüenta”. “Professor, você está dando aula para o meu filho, já esta na hora de aposentar, né?”
Essas frases dignas de Galvão Bueno são ouvidas rotineiramente pelos mestres que pacientemente respondem com um sorriso, que dá ao interlocutor a idéia de concordância.
A primeira vista são frases banais ditas por ex-alunos que desejam simplesmente aproximar do antigo professor, são frases carregadas de preconceito sobre o magistério, nelas estão implícitas o pensamento geral da Nação: “Professor não é profissão, é bico”.
Muitas vezes o professor em uma roda de amigos é apresentado a alguém. Conversa vai, conversa vem, o novo conhecido faz o disparo fatal:
- Você é médico (advogado, engenheiro, jornalista, etc.)?
- Não, sou professor.
- Aaaaaah, “mas você só dá aula, não trabalha não, né?”.
Esse diálogo “mata mais do que bala de carabina e muito mais do que estriquinina”.
Mas não sofra, relaxe e aproveite a sua vida e seus momentos futuros e glória, pois possivelmente ainda será lembrado por um político em campanha eleitoral ou por alguém em seus quinze minutos de fama na televisão (Programa do Gugu, Faustão, Hebe Camargo, etc.) dizendo que você foi o professor preferido.

Domingos Arantes
(Professor, Acadêmico de Direito,
e contador de “causos” nas horas vagas)